31 de mai. de 2011

Invenções verdadeiras

Como você cria seus personagens? Depois de ouvir essa pergunta (difícil!) de um repórter, a escritora Maria José Silveira resolveu fazer uma enquete com vários escritores e publicou as respostas no seu blog -- a minha também está .

(ST)         

Abrindo o apetite

Ontem passei o dia brincando de fazer poesia com os pequenos das escolas municipais Pde. Joaquim de Souza e Silva e Vereador Benedito Batista, em Contagem, Minas Gerais. Fiz uma salada de palavras com os textos do "Como Começa" e do "Mistério do Tempo" e depois pedi pra turma inventar um tempero novo pra cada trecho. Este, por exemplo, ficou com um sabor bem gostoso de rima: "Na escola, fui juntando lé com cré/ Mané com chulé/ Café com cafuné/ Jacaré com pontapé".          

(ST)  

27 de mai. de 2011

Coincidências

Podia ter sido o título do post de anteontem: foi uma grande coincidência eu estar entrando na livraria na mesma hora em que o moço da editora apresentava meu livro recém-publicado (e que eu ainda não tinha visto) pra gerente. E também foi por acaso que o Pedro tirou da estante da biblioteca um livro que sua mãe reconheceu pela capa, publicada aqui dias atrás – uma coincidência que a Juliana contou ontem, no seu comentário. A gente sempre se surpreende quando coisas inesperadas, mesmo as mais banais, acontecem ao mesmo tempo – é como se a vida real ganhasse um toque de ficção, com direito a mistérios e acasos que parecem caber só nas histórias inventadas. Lembrei de um livro que fala muito sobre isso e até fiquei com vontade de reler “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera. Fui procurar e achei um trecho que diz exatamente o que penso: “Nossa vida cotidiana é bombardeada de acasos, mais exatamente encontros fortuitos entre as pessoas e os acontecimentos – aquilo que chamamos de coincidências (...) O romance não pode ser censurado por seu fascínio pelos encontros misteriosos dos acasos (...), mas podemos, com razão, censurar o homem por ser cego a esses acasos da vida cotidiana, privando assim a vida da sua dimensão de beleza”.
Não há nada de sobrenatural nas coincidências. Elas só nos fazem lembrar que a magia também faz parte da vida.    

(ST) 

26 de mai. de 2011

Pressentimento

É como um perfume que a gente sente, mas não sabe de onde vem. Às vezes passa logo, mas tem dias que insiste em ficar no ar, espalhando inquietude. Em certos momentos, é só um lampejo, igual à luz de um farol que pisca, de repente, no meio da neblina, deixando uma impressão com cara de certeza. De um jeito ou de outro, pressentimento é sempre embaçado, como um sonho que continua se sonhando depois de acordar. E tem esse mistério de se fazer entender, mesmo sem se explicar.
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Porque hoje minha bicicleta me levou por uns caminhos antigos, reescrevi esse post publicado aqui.

(ST)

25 de mai. de 2011

Bichos na livraria

Ontem passei na Livraria da Vila pra comprar um presente e -- surpresa! -- acabei saindo de lá com o "Fala, Bicho!", meu primeiro título pela Moderna e também a primeira parceria com a ilustradora Ana Terra. Meu lote deve estar chegando, mas não deu pra não comprar um exemplar, e tenho certeza que os bichos acharam ótimo. É que prometi rachar os direitos autorais com a minha gata, a calopsita da Estela, o pug do Julio, as porquinhas-da-índia da Deborah, a turma da janela e todos os personagens do livro.

(ST)

23 de mai. de 2011

O meu Lobato

Não sei dizer quantos anos eu tinha quando visitei o sítio do Picapau Amarelo pela primeira vez. Só lembro que gostei tanto daquela turma que voltei muitas vezes à estante do meu primo, onde esses livros moravam. Pra minha sorte, esse primo não prestava muita atenção e, às vezes, certos volumes não voltavam pra casa -- "O Minotauro", por exemplo, se perdeu no labirinto do meu quarto pra sempre. Mas isso é outra história.
Só vim a ser proprietária da coleção completa muito tempo depois, numa época em que a curiosidade já me levava pra outros sítios; dos 20 aos 30 e muitos não voltei a visitar Lobato, mas era bom saber que aqueles livros estavam ali e podiam me levar de volta à infância na hora em que sentisse vontade. Isso aconteceu quando comecei a escrever para crianças: foi com grande prazer que reli "As Reinações de Narizinho" e sigo relendo todos os outros. Há pouco tempo, um trabalho me conduziu à "Emília no País da Gramática" que, mesmo sem ser emocionante, é inventivo e continua sendo genial.
Resolvi falar de Lobato depois de ler a reportagem da revista Bravo, com as cartas que expõem com todas as letras a intolerância racial do autor. Não quero entrar na discussão sobre a necessidade de se fazer correções ou de acrescentar explicações aos seus textos infantis, mas fiquei com vontade de dizer que, pra mim, o que ficou marcado não foi o ranço do seu racismo, mas a mágica da sua fantasia. Da tia Nastácia, guardei uma imagem carinhosa -- a de alguém me esperando sempre com bolinhos saindo do forno; a personagem que transformou um sabugo seco no sábio Visconde e que costurou os sonhos da Narizinho na boneca Emília. Por tudo isso, torço pra que esse "desvio" do autor não desvie futuros leitores dos caminhos do Sítio.
Por coincidência, ontem esbarrei nesse texto de Clarice Lispector, de 1968: "Quanto a mim, continuo a ler Monteiro Lobato. Ele deu iluminação de alegria a muita infância infeliz. Nos momentos difíceis de agora, sinto um desamparo infantil, e Monteiro Lobato me traz luz". Assim como a minha tia Nastácia ainda traz cheiro de bolo gostoso.

(ST)    

21 de mai. de 2011

Frio

De tão gelado, o vento fez o sol se encolher, encabulado
Como se tivesse aparecido sem ser convidado
No céu azul e tão frio de sábado


(ST)

20 de mai. de 2011

Onde

Debaixo do chuveiro, dentro de uma gaveta, no recheio do bolo, na caixinha dos óculos, num galho esquisito que não combina com a árvore, na pressa do relógio, num livro esquecido na estante, na sala de espera do dentista, enquanto o sinal está vermelho, numa fotografia antiga, no supermercado, no pulo da gata, dentro da bolsa, lendo jornal, no cheiro do café, no sonho da noite que reaparece de dia, depois do susto, no meio da música. As ideias vivem por aí, distraídas, querendo se contar. 


19 de mai. de 2011

O primeiro a chegar

O pica-pau não se intimidou com o frio: aterrissou cedinho e praticamente acabou com a melancia. Depois atacou as cascas de caqui e se mandou. As maritacas perderam a hora mas, por sorte, ele não é chegado em banana -- foi só o que sobrou do café da manhã.

(ST)

18 de mai. de 2011

Em coreano


Não vai dar pra conferir a tradução, mas tomara que os pequenos coreanos gostem do "Como Começa".   

(ST)

17 de mai. de 2011

Entusiasmo

Tenho certeza de que vou levar uma bronca quando meu filho descobrir o post de ontem. Mas o entusiasmo provoca essas coisas impulsivas, apaixonadas e, por isso mesmo, um pouco desmedidas. Desde que não se transforme em fanatismo, essa energia só faz bem: traz força, inspiração, alegria. Não é o que acontece quando a gente se entusiasma por alguém, por uma causa ou por um trabalho? A etimologia da palavra diz tudo: o termo grego “enthousiasmós” significa “transporte divino”, o que me faz pensar no que a gente sente quando se apaixona, por exemplo, por um livro, lendo e também escrevendo. No dicionário, encontro muitos sinônimos sonoros como "excitação", "arrebatamento" e "exaltação criadora", e comprovo que entusiasmo é um dos combustíveis que move o mundo. Pra mim, está no topo da lista de sentimentos de primeira necessidade: sem isso, não tem colírio que dê conta de inventar brilho nos olhos nem creme anti-idade que nos devolva o frescor da juventude.

(ST)

13 de mai. de 2011

Mistério

Depois de quase dois dias de apagão o blog voltou a funcionar, mas o post de ontem sobre "Livros e Bolos" sumiu. Como hoje é sexta-feira, 13, talvez ele reapareça de repente (?). De todo modo, não deletei a ideia, então segue um replay pra quem não leu:
...
No post desaparecido, eu contava sobre a minha pilha de livros do criado-mudo que não diminui nunca, e de como é difícil dar conta de tudo o que gostaria de ler. Contava também que, apesar disso, vira e mexe acabo relendo livros que já estão na estante há muito tempo, às vezes até sem querer. Foi exatamente o que aconteceu com "Água Viva", de Clarice Lispector -- dias atrás, enquanto procurava um trecho que queria usar no meio de um texto, acabei lendo outro e mais outro até finalmente reler o livro todo.
Foi essa leitura que me fez pensar que livros são como bolos: tem os que a gente experimenta e não gosta, nem chega a comer um pedaço inteiro; os que saboreamos devagar, um pouquinho por dia; e também aqueles que simplesmente devoramos de uma vez só. Mais que isso, certos livros são como um bolo de fubá saindo do forno e prová-los nessa hora é delicioso. Sentimos um prazer imenso na hora, mas isso nem sempre se repete comendo o mesmo bolo em outro momento.
Mas existem os bolos especiais, como o de Clarice. Com tantas camadas e recheios diferentes, esses mantêm um gosto de "primeira vez". Nesse caso, reler não é apenas relembrar, mas descobrir sabores que continuam surpreendendo o paladar a cada bocado.

(ST)

11 de mai. de 2011

Reviravento

Todas as coisas se movem 
Quando o vento vem cutucar
Por fora e por dentro
Tudo pode mudar de lugar


O livro deve sair ainda este ano pela Callis, ilustrado pela Rosinha.


10 de mai. de 2011

Sempre no ar

A jornada da Creuza pelo espaço chega ao fim com o 8º capítulo de "Uma Bruxa em Órbita". Depois de aprontar na Lua e em Marte ela volta pra casa , mas o relato dessas aventuras fica na estante do site Brincando na Rede.

(ST) 

9 de mai. de 2011

Tenho vários encontros marcados com os pequenos do Colégio Pentágono hoje, amanhã e quarta-feira. Volto com novidades assim que der pra estacionar a bicicleta.

(ST)

6 de mai. de 2011

Faxina

Mágoa não é coisa boa de se guardar. É como se fosse um vestido fora de moda que acaba ficando pendurado no cabide --só serve pra ocupar espaço dentro do armário e espalhar um cheiro de mofo no coração da gente. 

(ST)       

5 de mai. de 2011

Avós

A mãe da minha da mãe falava com os olhos e acho que por isso o carinho ficou sendo azul pra sempre.
A mãe do meu pai falava num dialeto que eu não conseguia entender e acho que por isso aprendi a ler sorrisos.
As palavras se dizem de muitos jeitos.
 
(ST)

3 de mai. de 2011

Muitas casas

Dia desses a querida May Shuravel perguntou porque eu não lincava o blog à minha página do facebook. Durante um tempo até fiz isso, mas logo comecei a achar que nem tudo o que escrevo aqui faz sentido lá. Então compartilho somente alguns posts, os que, de alguma forma, ficam à vontade fora de casa e conversam numa boa com todo mundo que aparece por lá. O blog também é uma sala aberta, ninguém precisa de convite pra ir entrando. A diferença é que, aqui, as visitas geralmente sabem o que vão encontrar. Quem entra pra xeretar e não curte o ambiente, vai embora logo, sem tomar cafezinho. E quem gosta do assunto, anota o endereço e volta sempre, ou dá uma passada de vez em quando. Acontece que, muitas vezes, esses visitantes levam os posts pra passear por outros lugares -- salas de aula, blogs e, ultimamente, também pelo twitter e nas páginas do facebook.
Ainda não me convenci de que os temas do blog podem frequentar o meu mural do facebook sem cerimônia. Mas cada vez que encontro alguma coisa que escrevi aqui numa sala inesperada, descubro o óbvio: sempre é o leitor quem dá sentido e coloca as palavras em sua própria casa.

(ST) 

2 de mai. de 2011

Balão mágico

Viajei nas imagens que o fotógrafo francês Laurent Laveder inventou com a lua.
Pra chegar lá, é só clicar aqui.

(ST)