20 de mai. de 2017

talvez comece assim

Luís, prestenção! Tem que virar a cabeça na braçada!

Para o professor de natação, esse era o seu nome, Luís.

Desde a primeira aula. Naquele dia, depois de um instante de hesitação, percebendo que o professor estava falando com ele e que, por algum motivo (que ele nunca se interessou em saber) ele era o tal Luís, ficou sendo.

Luís, Zezinho, Salomão, não fazia a menor diferença. Se arrastava pela piscina só estava lá pra parar de ouvir a mãe repetir que ele tinha que praticar um esporte. Vencido pela falta de autonomia dos seus sete anos, lá estava ele, fazendo o que não queria. Mas ali era outro, e secretamente saboreava o seu pequeno ato de rebeldia.

9 de mai. de 2017

portal


(…) Como se entrasse em um templo a céu aberto, ela mergulha nas trilhas sombreadas do parque em busca de silêncio, o silêncio possível dentro da cidade, o som dos carros que passam na via expressa chegando abafados pela cortina de árvores. Enquanto lá fora a vida segue em trânsito, Beatriz entra em outro ritmo, num tempo marcado pelo tique-taque das cigarras, a conversa dos pássaros, o rumor do vento, a eletricidade calma dos insetos. E o que, antes, era uma parada eventual no meio de seu percurso, agora é o lugar-santuário onde ela se recolhe, envolvida pelo perfume verde das cabreúvas, figueiras, tipuanas, jatobás e paineiras, os troncos tatuados com tantos nomes, iniciais e símbolos de amores que talvez já não existam (…*)

(*trecho de uma história que estou escrevendo)